sábado, 10 de novembro de 2007

Balanço sobre a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Certo, é hora de tentar fazer um balanço sobre a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Se a ordem do nome estiver errada, reclame com o Babenco, por favor.
Foram 17 filmes em quase uma semana e o único critério que consegui inventar para compará-los foi os diferentes graus de surpresa que senti ao vê-los. A minha seleção foi primeira feita tendo em mente questões "locomo-técnicos" e logo em seguida pelo meu interesse nas sinopses encontradas no site da mostra. Poucos filmes não seguem essa lógica, mas isso não importa. A lista está relacionada no final do post. Agora chega de prefácio.
Começamos com os números: nenhum documentário, um filme feito em conjunto e o restante puro "prazer" ficcional, sendo dois deles, brasileiros e um uma animação. Seguimos com primeiras impressões: o filme "Caos" me irritou profundamente. Na verdade a irritação se deve em parte por minha estupidez ao ler a sinopse do filme. Na verdade parte 2, eu provavelmente li a sinopse porcamente. Em suma, a maioria dos filmes, utilizando de uma avaliação à la Folha de S.Paulo, está entre o razoável e o ótimo. Nesse sentido, decidi escrever um pouco sobre alguns dos filmes que mais me chamaram a atenção, independente de quanto o filme me agradou.

Sem dúvida, começo por Contos de Terramar. Animação de roteiro fraco e trilha sonora que trabalha contra o filme, por ser exaustivamente usada de modo até intrusivo (chamo isso de “efeito Stardust” – explico isso algum dia, se alguém tiver interesse). O que há de surpreendente é de fato a animação em si, a técnica. Assumo que a primeira vista não tinha gostado muito, mas tem algo em alguns planos que me choca levemente. O diretor é Goro Miyazaki, filho de Hayao Miyazaki, responsável pelos filmes A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado. E a relação que faço entre Contos e A Viagem de Chihiro, pois foram os que vi, sublinham a relação de (des)respeito entre homens e animais fantásticos, principalmente dragões. A Viagem ganha fácil no tratamento que dá a essa questão, tanto na forma/estilo da animação pelo contéudo/roteiro criativo. Não resta dúvidas, apesar disso ser lugar-comum.

Já em Estado do Mundo, filme composto por 6 curtas, feitos por 6 diretores diferentes, Apichatpong Weerasethakul novamente me surpreende com seu Pessoas Iluminadas. O Mal dos Trópicos, longa realizado em 2004 por ele, é uma experiência envolvente difícil de se descrever e Pessoas Iluminadas segue o mesmo caminho, por meios diferentes. O cinema de Apicha, pelo menos tendo em conta esses dois filmes, poderia ser definido como uma experiência cinematográfica, num sentido empiristamente abstrato. O espectador, no caso eu, experimenta aquela vivência retratada pelo diretor de modo intenso, porém sabe de sua incapacidade de se envolver totalmente com a história narrada e resta a ele, no caso eu parte 2, apenas experimentar o filme como conseguir, seja se emocionando ou não. Bem, talvez eu tenha exagerado um pouco, mas essa idéia que lancei aleatoriamente parece interessante de se desenvolver algum outro dia.

Nem de Eva, nem de Adão, de Jean Paulo Civeyrac e O mundo de Jia Zhang-ke, por mais estranho que possa soar uma aproximação entre os dois, trazem uma leveza ao narrar histórias que tem certo peso. O primeiro sobre os problemas enfrentados por um jovem "semi-delinquente" e o segundo sobre um relacionamento. Na verdade, ambos tratam de relacionamentos, obviamente de modos diferentes. Enfim, a minha surpresa reside exatamente nessa leveza formal ao abordar conteúdos carregados.

Sukiyaki Western Django, realizado por Takashi Miike surpreende pela modo que estiliza seu filme. O cenário pintado ao fundo nas primeiras cenas comprovam isso. Descaradamente paródico dos filmes de western americano, mas sem abrir mão do mais (im)puro melodrama familiar. Talvez seja isso, não sei ao certo. O filme é bonito e um tanto engraçado, ponto final.

Ben X, A fase final foi um dos senão o que mais me espantou. A sinopse era interessante só por abordar o mundo virtual dos jogos de computador, mas essa abordagem é mínima, e serve mais para ilustrar o cotidiano do garoto autista que tem uma "vida saudável" apenas no mundo do rpg Archlord. Quero chamar a atenção para o modo como a forma e o conteúdo do filme são tratados. Utilizando de uma estrutura falsa de documentário em alguns momentos e de imagens captadas em tempo real do jogo de rpg online Archlord, o filme parece cair em armadilhas fáceis, tentando se sabotar. E um dos grandes méritos é essa auto-sabotação. O diretor Nic Balthazar usou de métodos não convencionais para primeiro tentar compreender ou pelo menos explorar o universo de um autista e em segundo forjar um falso documentário para supostamente dar mais veracidade e força ao que é mostrado. Digamos que a moral do filme seja a auto-superação do garoto autista através de uma força imaginária criada por ele e pela força que um documento visual forjado tem quando se trata do universo autista. Pode soar muito estranho, mas o garoto, ajudado por essa força imaginária, que tem a forma de uma garota, planeja gravar sua morte. Partindo dessa premissa, o filme é rico para se discutir o próprio filme que se preocupa em não ser transparente ao mesmo tempo em que brinca com o espectador desde o começo, quando começa com os créditos inseridos na interface (é isso?) do jogo Archlord.

E chega por hoje. Abaixo a lista dos filmes que assisti:

26/10
Jovem Yakuza - Jean-Pierre Limosin
Contos de Terramar - Goro Miyazaki
O Estado do Mundo - Apichatpong Weerasethakul, Vicente Ferraz, Ayisha Abraham, Wang Bing, Pedro Costa, Chantal Akerman

27/10
Halfaouine - Férid Boughédir
Ben X, A fase final - Nic Balthazar

29/10
Nem de Eva, nem de Adão - Jean Paul Civeyrac
Fantasmas - Jean Paul Civeyrac
Sukiyaki Western Django - Takashi Miike

30/10
Planeta Terror - Roberr Rodriguez
Nome próprio - Murilo Salles
Armadilha - Srdan Golubovic

31/10
Só por Hoje - Roberto Santucci
Sem Arrependimento - Leesong Hee-il
Dever Cívico - Jeff Renfroe

01/11
O mundo - Jia Zhang-ke
Caos - Youssef Chahine, Khaled Youssef
Caótica Ana - Julio Medem

Ps: É provável, mas eu não prometo que, escreverei sobre outros filmes da mostra em outra oportunidade.

2 comentários:

blah disse...

me deixasse com muita vontade pra ver Ben X. Tô sempre tentando traçar paralelos entre jogos eletrônicos (que estudo na udesc) e cinema. É bom ouvir que o filme não se prende ao jogo, mas só usa ele em função de um drama mais pontual. Parece que o diretor descobriu um jeito saudável de trabalhar isso, sem perder-se num deslumbramento tecnológico ou discussões filosóficas profundas sobre o virtual, como usualmente ocorre.

-~- disse...

quando tem novamente? eu quero!