sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

3 cenas de "Dans Paris"

1ª cena - Temos o [jovem] bon vivant e o [outro] depressivo. Irmãos. O jovem sai às ruas de Paris, encontra amores. O outro fica em casa e só sai para tentar se suicidar.

2ª cena - Louis Garrel nu (quanto lirirsmo!)

3ª cena - Os dois irmãos estão na cama, o mais jovem está molhado, o outro o ajuda a se secar. É o primeiro momento em que eles realmente dão atenção um ao outro. Um dia antes o mais também havia se jogado da ponte, logo a empatia estava lá, mas a motivação era diferente. Finalmente eles conversam o que evitaram o filme todo. As vezes um abre a boca e fala, as vezes eles só se olham. Mas nós, espectadores, sabemos de toda a conversa.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Thiago - Filmes da Mostra parte 1 de 7 (ou 6)

Grande atraso, já é old news, mas aqui está.

Esse grande nerd que eu sou (nerd de verdade, que entende de programação mesmo que isso seja totalmente precindível na sua vida, não esses mané que só por que gostam do Homem-Aranha acham que são nerd) exige que eu sistematize as coisas. Então, primeiro apresentarei o meu método para em seguida expor as minhas impressões sobre os filmes devidamente comentados.

Vou fazer algo mais cronológico que os meus colegas. Na minha incapacidade de classificar os filmes préviamente, vou me utilizar da abordagem mais simples para comentar os filmes vistos na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Deixo questões mais gerais, que permearam os filmes que eu vi para o final, quando eu tiver escrito sobre cada filme individualmente e possa analisar friamente o todo.

Vamos lá. Vai começar.

Dia 1 - 26/10

Chegando em São Paulo por volta das 10:30, enquanto eu faço check in no hotel, algumas pessoas correm para garantir os ingressos para Deathproof e/ou Planet Terror. Eu, com dor nas entranhas, preferi rejeitar esses filmes em favor de filmes supostamente menos acessíveis (o que faz sentido, já que vi Planet Terror a algumas semanss - só não sei quando o Tarantino estreiará).

Já estabelecido no hotel, de banho tomado e após alguns minutos denegrindo o ônibus desconfortável que nos levou até a capital financeira do país, disparo para comprar os ingressos para os filmes que eu escolhi previamente de forma (não tão) aleatória.

Filme 1 - Import Export (2007), de Ulrich Seidl

Vou para a minha sessão esperando um típico filme sobre o leste europeu. Não que eu seja um grande conhecedor da cinematografia da parte oriental da Europa, mas o bom senso me diz "pessimismo sobre a neve". Colocado assim, o filme corresponde ao que eu esperava. Duas histórias paralelas que, felizmente, não se cruzam, sobre dois jovens (uma enfermeira e um segurança) em busca de uma vida melhor, um indo para o leste, outra para o oeste.

O filme acaba se rendendo a cenas fortes, crueis ou enojantes. Mas há algo de triste, proveniente de uma harmonia entre os elementos do filme (movimento/estatica, enquadramento/extra-campo) que leva ao desespero. É pela vias do despudor e da vontade de mostrar uma miséria da alma que o filme busca conquistar o espectador. Não considero isso muito valoroso, mas preciso admitir que existe algum mérito no esmero com que o diretor conduz isso.

Filme 2 - Vocês, Os Vivos (2007), de Roy Andersson

É complicado para mim falar sobre esse filme. A sessão atrasou cerca de meia hora e tive que sair na metade do filme para não perder Sukiyaki Western Django. Então qualquer impressão é muito contestável. Relato, então, uma experiencia abortada.

Mais um filme com alguma dose de pessimismo, mas dessa vez não posso me refugiar na fácil e superficial classificação de "filme do leste europeu". Composto por sketches bem humoradas, interligadas diegeticamente, não cria uma narrativa clássica, mas propõe uma idéia de esvaziamento das relações humanas, utilizando o contraste entre a frieza e o excesso de emoções como obstáculo para a sua concretização.

A comédia pode parecer fraca e repetitiva as vezes (como num Monty Python de segunda), mas há momentos de grande inspiração. Destaco a tensão dramática criada no sonho de um personagem, onde este irá realizar o "truque da toalha", se preparando para puxar a toalha de uma mesa enorme. O desenvolvimento e a conclusão dessa sketch foi um dos melhores momentos dessa mostra.

Filme 3 - Sukyiaki Western Django (2007), de Takashi Miike

Último filme do dia, mais uma comédia, escolhida pela vontade de conhecer algo de Miike e de ver um western japonês. É díficil encarar friamente um filme que eu me diverti absurdamente, por isso vou ser breve. Numa grande amálgama de western com filme de artes marciais, o exagero parece tomar conta de tudo. Toda a plasticidade e artificialismo da empreitada é explicitada cômicamente. Talvez um apego maior a uma história que, sinceramente, não interessa, faça o filme perder aalguns pontos. Mas não rejeito o excesso de referências no filme, acho que coube perfeitamente.
Não consigo achar palavras mais exatas para falar sobre esse filme. Não que tenha sido uma sessão de orgasmos ininterruptos, mas na mediocridade que existe entre o bom e o arrebatador, a dificuldade surge.

Bom, esse foi o primeiro dia. Voltei para o hotel e dissolvi numa cama confortável.

domingo, 25 de novembro de 2007

Análise de O homem que não estava lá

Realizado por Joel e Ethan Coen O homem que não estava lá narra a história de Ed Crane, um barbeiro que leva uma vida comum em Santa Rosa, no estado da Califórnia no final dos anos 40. Após descobrir que sua mulher Doris (Frances McDormand) mantém um caso com Dave, o chefe dela, Ed vê a possibilidade de mudar seu modo de vida depois de conhecer Creighton na barbearia em que trabalha.
O personagem central, interpretado por Billy Bob Thornton, preocupado em arranjar dinheiro para fechar a parceria de um novo negócio de lavagem a seco com Creighton, utiliza de seu conhecimento sobre o caso de sua mulher para chantagear Dave e conseguir a quantia que precisa para realizar o negócio. Após conseguir o dinheiro, Dave descobre que foi Ed quem o chantageou e tenta matá-lo. Ao tentar se defender da investida daquele, este o mata com uma faca.
A partir daí, estes quatro personagens, que considero como os principais, envolvem-se em uma trama composta por tragédias. E utilizando-se dos temas reunidos por A. C. Gomes de Mattos (retirados do livro O outro lado da noite: Filme noir), pontuo as que mais chamam a atenção e se assemelham com o enredo de O homem que não estava lá. Os subtópicos 3 e 4, sendo o primeiro o que afirma que “A mediocridade da existência conduz ao crime ” e o segundo “O protagonista está sempre a mercê dos caprichos do destino.”


Considerando estas duas afirmações, a narração em voz over de Ed que pontua todo o filme, a fotografia e mais alguns aspectos, pode-se afirmar que o filme seria um filme noir contemporâneo, provavelmente pertencente ao novo noir, que além de refletir, de algum modo, o período em que foi realizado, trabalha com elementos do período clássico de modo particular. A fotografia em preto e branco, o jogo de luzes, que muitas vezes relaciona-se diretamente com o estado emocional do personagem central e a voz over em tom reflexivo, frio e distante, que complementa o que é mostrado, além do crime são pontos chave para sustentar essa aproximação com o período clássico.
Contudo, a trilha sonora impõe mais um ritmo de contemplação do que de tensão, e que auxilia a construir uma das cenas mais interessantes do filme: o antes e o depois da morte de Dave. Depois de colocar Doris na cama, Ed inicia uma narração em voz over sobre como conhecera sua mulher. Ela é interrompida pelo telefonema de Dave e logo retorna após este morrer, concluindo com uma pequena reflexão sobre o relacionamento de Ed e Doris. É provável que para ele, o crime simplesmente aconteceu e isso não alterou nada. O adultério de sua mulher poderia ser usado para um ponto de virada em sua vida.
Por almejar uma perspectiva de futuro diferente da que tem como barbeiro, Ed comete homicídio provavelmente para de defender, após conseguir o que queria. Devido a isso, o protagonista é lançado em eventos que fogem de seu controle e não há quase nada que possa ser feito para evitá-los. Nesse sentido, o enredo é linear e simples, apesar de ser narrado em forma de um grande flashback e ter algumas reviravoltas. Há duas confusões cometidas pelos policiais com relação aos personagens que merecem destaque. Doris é acusada de assassinar Dave, seu amante, e Ed de ter matado Creighton. Tais conclusões equivocadas são frutos de raciocínios óbvios motivados pela relação que estes personagens tiveram aos olhos da polícia, seja pelo adultério e fraude cometido por Doris, seja pela parceria formada por Ed e Creighton e fechada com a assinatura de um documento. O mais curioso é que o processo de investigação não interessa para a história, e sim o fato de punir os responsáveis pelos crimes “errados”.
É interessante a idéia de estabelecer um equilíbrio cinematográfico tanto pela influência noire, já que os quatro personagens vivenciam diferentes tipos de crise e para tentar resolverem isso se matam ou são mortos, quanto por motivos dramaturgicos, para criar um clima de tragédia, vazio e fracasso individual. Seria como se cada morte fosse justificada por outra, e assim um ciclo de quatro pontos forma-se, estabelecendo um novo equilíbrio, no fim da obra.
De fato, o filme poderia ser considerado “realista”, por se ater a elementos facilmente reconhecíveis da realidade da década de 1940. Porém, a menção à OVNI´s (Objeto Voador Não-Identificado, referência para naves alienígenas) pela mulher de Dave e o sonho/alucinação que Ed tem após o acidente de carro e quando vê um OVNI na prisão sugerem um caráter fantástico como contra ponto a essa pretensa “realidade de época” que os irmãos Coen filmaram.
Nas palavras de Billy Bob Thornton nos extras do DVD do filme: “Você imagina um filme noir, Big Sleep ou Double Indemnity, qualquer um desses filmes com aquele senso de humor, só que em vez de um detetive sou um barbeiro. É a história de um barbeiro que lenta, mas certamente é atraído a essa intrigante trama.”
Em suma, Ed é, ao mesmo tempo, culpado e inocente pelo que faz, pois é manipulado por uma vontade de querer mudar de vida, imerso numa crise emocional silenciosa. É através de seu grande relato reflexivo que se pode perceber ou teorizar porque ele nunca falou muito em vida e parece calmo e controlado quase todo o tempo. E todos os personagens, sejam masculinos ou femininos, apesar de abraçarem características de figuras comuns dos filmes noirs clássicos não podem ser facilmente definidos como tais.


Ps: Tive a petulância de postar esta análise desenvolvida para o trabalho final de Gêneros Cinematográficos sobre o filme noir motivado por uma necessidade pessoal: me sentir útil numa madrugada ociosa.

Ps, parte 2: A Semana do/de (?) Cinema realizada pelo curso de Cinema da UFSC está de parabéns. Foi bem interessante, em sua maioria. Valeu a pena, sem dúvida.

sábado, 24 de novembro de 2007

Semana de Cinema- José
Então pessoas, vamos falar da semana? Pois bem: Achei a semana de modo geral muito boa, melhor do que tinha imaginado, muito bem organizada, e, mesmo não sendo uma área de grande interesse pra mim (documentário), muitas coisas de algum modo ajudam na área que cada um preferir. è muito bom ter contato com o MERCADO, (medo), porque, de certa forma, ficamos meio que alheios com o que acontece realmente nele.
Faltei em várias coisas, é difícil estar em tudo, mas nas que participei gostei. Tirando a mesa do cinema catarinense. Não conhecia Zeca Pires, e quando falou do quão glorioso foi para ele estar junto dos artistas da Globo no tapete vermelho em Gramado....ai ai ai....
Tah...continuo depois....

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Primeiras impressões de Acidente, dirigido por Cao Guimarães e Pablo Lobato

Acidente, de Cao Guimarães e Pablo Lobato, me propôs um jogo simples de raciocínio. E isso é extremamente estranho para um filme que, pelo que ouvi, é tipo um “documentário poético”. Independente da grande interrogação que esse termo possa provocar, comecei a tentar fazer relações com o nome das cidades mineiras, que no fim do filme formam um poema, com as imagens que são apresentadas delas. Algumas relações são imediatamente feitas, porém outras parecem requerer somente uma contemplação por parte do espectador, seja pela beleza das tomadas ou pela suposta subjetividade. Peguei-me dando risadas de baixo tom como uma criança em algumas cenas e sinceramente não sei se é porque elas remetem ao meu “passado” em Minas Gerais, como por exemplo, o característico som do canto do galo que canta nos ínicios das manhãs, ou por outro motivo.

Consistia num riso nostálgico, que revelava o nível de interação que tive com o filme. Poderia até dizer que seria um riso contemplativo, fruto da intensidade que algumas imagens me provocavam, seja pela sombra do crucifixo ao lado de um senhor estático em frente a câmera, seja pela leve piada com o nome da cidade Entre Folhas e a imagem de folhas funcionando como um brinquedo do vento.
Apesar de ter consciência dessas sensações, talvez eu tenha traído o “objetivo” do filme, já que ele parte de um pressuposto experimental que aparentemente tem pouco a ver com a razão. Portanto, meu simples jogo de associações e sensações podem ter sido um modo que criei para aproveitar o filme.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Balanço da Mostra - Carol

Devo confessar que esta mostra foi violenta.

O trajeto do meu balanço vai ser dos que eu menos gostei para os que eu mais gostei.
Pra variar, serão impressões bem superficiais que tive dos filmes...

Across the Universe é um musical adolescente pretensioso que usa como chamariz a obra dos Beatles. Cheio de clichês e com uma construção lamentável, ele tenta de forma constrangedora seguir historicamente e esteticamente a carreira dos Beatles e as próprias relações pessoais internas da banda se manifestam nas relações dos personagens.
Invísivel é um daqueles filmes com vários curtas de diferentes diretores (algo que, cada dia que passa, eu abomino mais e mais). Este opta por mostrar grandes problemas do mundo que são invisíveis como a doença de chagas na Colômbia e todos aqueles problemas na África. Um filme, acima de tudo, incômodo pelo sensacionalismo dramático e muito infeliz em suas tentativas dramatúrgicas.

El Outro é um filme super argentino, mas bem mediano, totalmente sustentado pela boa atuação do protagonista. Conseguiu se livrar do estigma “remake de profissão: repórter” que a sinopse que rendeu.
Go go Tales foi algo estranho. Provavelmente porque eu tinha expectativas diferentes em relação a ele. Se eu fosse homem talvez ele valesse só pela quantidade de seios que aparecem por minuto. Não que eu ache isso forçado no filme, muito pelo contrario (ele se passa num bar de strip-tease, porque não teria mulheres nuas?!)
Nem de Eva, nem de Adão, do Civeyrac foi uma surpresa boa, um filme bem sensível, que gera um certo desconforto pela violência de algumas imagens. Traz uma solidão, uma incompreensão ao casal de adolescentes com uma densidade absurda.

Sukiyaki Western Django foi algo fantástico pra mim por desconhecer totalmente os filmes do Miike. Um filme interessante, que cospe referencias “pros cinéfilos se divertirem” e eu acho isso ótimo, pois é usado com bastante inteligência.
Em Gloria ao cineasta! Takeshi Kitano faz uma boa piada a respeito de qualquer possível reflexão sobre sua obra e depois se perde ao tentar se encontrar.

Vocês, os vivos é um filme que não conta nenhuma história, a principio. Mostra uma sociedade que aparentemente perdeu a vontade de viver com um humor negro que lhe cai muito bem e não parece dar nenhuma solução à morbidez dos personagens.
Persépolis é uma boa animação em flash, com soluções estéticas bem interessantes (não caiu no clichê Irã= pérsia = Aladim). O roteiro é bonitinho e didático; a história de uma garota que acompanha todo um movimento político no Irã (a queda do Xá e tudo mais), mas a personagem principal tem uma construção meio duvidosa e ambígua. E o filme é todo falado em francês, o que é muito confuso no começo.


Eu paro por aqui senão o negócio se estende demais. No total vi 18 filmes. Fico devendo algo sobre Paranoid Park, Senhores do Crime, Redacted, Beaufort, Import Export, A Amada, Tabu, Jogo de Cena, O Mundo (revisto) – o que é um deboche porque metade desses que eu “deixei pra depois” foram os que eu mais gostei. (olha a deixa pra eu criar vergonha na cara e escrever no meu blog sobre eles...)

sábado, 10 de novembro de 2007

Balanço sobre a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Certo, é hora de tentar fazer um balanço sobre a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Se a ordem do nome estiver errada, reclame com o Babenco, por favor.
Foram 17 filmes em quase uma semana e o único critério que consegui inventar para compará-los foi os diferentes graus de surpresa que senti ao vê-los. A minha seleção foi primeira feita tendo em mente questões "locomo-técnicos" e logo em seguida pelo meu interesse nas sinopses encontradas no site da mostra. Poucos filmes não seguem essa lógica, mas isso não importa. A lista está relacionada no final do post. Agora chega de prefácio.
Começamos com os números: nenhum documentário, um filme feito em conjunto e o restante puro "prazer" ficcional, sendo dois deles, brasileiros e um uma animação. Seguimos com primeiras impressões: o filme "Caos" me irritou profundamente. Na verdade a irritação se deve em parte por minha estupidez ao ler a sinopse do filme. Na verdade parte 2, eu provavelmente li a sinopse porcamente. Em suma, a maioria dos filmes, utilizando de uma avaliação à la Folha de S.Paulo, está entre o razoável e o ótimo. Nesse sentido, decidi escrever um pouco sobre alguns dos filmes que mais me chamaram a atenção, independente de quanto o filme me agradou.

Sem dúvida, começo por Contos de Terramar. Animação de roteiro fraco e trilha sonora que trabalha contra o filme, por ser exaustivamente usada de modo até intrusivo (chamo isso de “efeito Stardust” – explico isso algum dia, se alguém tiver interesse). O que há de surpreendente é de fato a animação em si, a técnica. Assumo que a primeira vista não tinha gostado muito, mas tem algo em alguns planos que me choca levemente. O diretor é Goro Miyazaki, filho de Hayao Miyazaki, responsável pelos filmes A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado. E a relação que faço entre Contos e A Viagem de Chihiro, pois foram os que vi, sublinham a relação de (des)respeito entre homens e animais fantásticos, principalmente dragões. A Viagem ganha fácil no tratamento que dá a essa questão, tanto na forma/estilo da animação pelo contéudo/roteiro criativo. Não resta dúvidas, apesar disso ser lugar-comum.

Já em Estado do Mundo, filme composto por 6 curtas, feitos por 6 diretores diferentes, Apichatpong Weerasethakul novamente me surpreende com seu Pessoas Iluminadas. O Mal dos Trópicos, longa realizado em 2004 por ele, é uma experiência envolvente difícil de se descrever e Pessoas Iluminadas segue o mesmo caminho, por meios diferentes. O cinema de Apicha, pelo menos tendo em conta esses dois filmes, poderia ser definido como uma experiência cinematográfica, num sentido empiristamente abstrato. O espectador, no caso eu, experimenta aquela vivência retratada pelo diretor de modo intenso, porém sabe de sua incapacidade de se envolver totalmente com a história narrada e resta a ele, no caso eu parte 2, apenas experimentar o filme como conseguir, seja se emocionando ou não. Bem, talvez eu tenha exagerado um pouco, mas essa idéia que lancei aleatoriamente parece interessante de se desenvolver algum outro dia.

Nem de Eva, nem de Adão, de Jean Paulo Civeyrac e O mundo de Jia Zhang-ke, por mais estranho que possa soar uma aproximação entre os dois, trazem uma leveza ao narrar histórias que tem certo peso. O primeiro sobre os problemas enfrentados por um jovem "semi-delinquente" e o segundo sobre um relacionamento. Na verdade, ambos tratam de relacionamentos, obviamente de modos diferentes. Enfim, a minha surpresa reside exatamente nessa leveza formal ao abordar conteúdos carregados.

Sukiyaki Western Django, realizado por Takashi Miike surpreende pela modo que estiliza seu filme. O cenário pintado ao fundo nas primeiras cenas comprovam isso. Descaradamente paródico dos filmes de western americano, mas sem abrir mão do mais (im)puro melodrama familiar. Talvez seja isso, não sei ao certo. O filme é bonito e um tanto engraçado, ponto final.

Ben X, A fase final foi um dos senão o que mais me espantou. A sinopse era interessante só por abordar o mundo virtual dos jogos de computador, mas essa abordagem é mínima, e serve mais para ilustrar o cotidiano do garoto autista que tem uma "vida saudável" apenas no mundo do rpg Archlord. Quero chamar a atenção para o modo como a forma e o conteúdo do filme são tratados. Utilizando de uma estrutura falsa de documentário em alguns momentos e de imagens captadas em tempo real do jogo de rpg online Archlord, o filme parece cair em armadilhas fáceis, tentando se sabotar. E um dos grandes méritos é essa auto-sabotação. O diretor Nic Balthazar usou de métodos não convencionais para primeiro tentar compreender ou pelo menos explorar o universo de um autista e em segundo forjar um falso documentário para supostamente dar mais veracidade e força ao que é mostrado. Digamos que a moral do filme seja a auto-superação do garoto autista através de uma força imaginária criada por ele e pela força que um documento visual forjado tem quando se trata do universo autista. Pode soar muito estranho, mas o garoto, ajudado por essa força imaginária, que tem a forma de uma garota, planeja gravar sua morte. Partindo dessa premissa, o filme é rico para se discutir o próprio filme que se preocupa em não ser transparente ao mesmo tempo em que brinca com o espectador desde o começo, quando começa com os créditos inseridos na interface (é isso?) do jogo Archlord.

E chega por hoje. Abaixo a lista dos filmes que assisti:

26/10
Jovem Yakuza - Jean-Pierre Limosin
Contos de Terramar - Goro Miyazaki
O Estado do Mundo - Apichatpong Weerasethakul, Vicente Ferraz, Ayisha Abraham, Wang Bing, Pedro Costa, Chantal Akerman

27/10
Halfaouine - Férid Boughédir
Ben X, A fase final - Nic Balthazar

29/10
Nem de Eva, nem de Adão - Jean Paul Civeyrac
Fantasmas - Jean Paul Civeyrac
Sukiyaki Western Django - Takashi Miike

30/10
Planeta Terror - Roberr Rodriguez
Nome próprio - Murilo Salles
Armadilha - Srdan Golubovic

31/10
Só por Hoje - Roberto Santucci
Sem Arrependimento - Leesong Hee-il
Dever Cívico - Jeff Renfroe

01/11
O mundo - Jia Zhang-ke
Caos - Youssef Chahine, Khaled Youssef
Caótica Ana - Julio Medem

Ps: É provável, mas eu não prometo que, escreverei sobre outros filmes da mostra em outra oportunidade.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mostra SP: Pessoal do blog, no meu blog estão a lista de notas dos filmes e alguns comentários superficiais a respeito de alguns filmes. Vamos começar o dabate!
Os 20 Melhores do ano 2000- José
(sem ordem)

O Aviador, de Martin Scorcese
Dançando no Escuro, de Lars von Trier
Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola
Fale com Ela, de Pedro Almodóvar
Munique, de Steven Spielberg
Gangues de Nova York, de Martin Scorcese
Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón
Moulin Rouge, de Baz Luhrmann
Dogville, de Lars von Trier
Volver, de Pedro Almodóvar
Kill-Bill 1, de Quentin Tarantino
Lavoura Arcaica, de Luís Fernando Carvalho
Procurando Nemo, de Andrew Stanton
Prenda-me se For Capaz, de Steven Spielberg
Maria Antonieta, de Sofia Coppola
Colateral, de Michael Mann
Kill-Bill 2, de Quentin Tarantino
A Fantástica Fábrica de Chocolates, de Tim Burton
O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, de Peter Jackson
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michael Gondry

(Com a Mostra entram nesta lista À Prova de Morte e Paranoid Park, mas ainda não decidi quem sai da lista).

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Os 20 melhores dos anos 2000 - Carol

(sem ordem)

Café e Cigarros (2003), Jim Jarmusch
Elefante (2003), Gus Van Sant
Dançando no Escuro (2000), Lars Von Trier
Encontros e Desencontros (2003), Sofia Coppola
Reis e Rainhas (2004), Arnaud Deplechain
Amor à Flor da Pele (2000), Wong Kar-Wai
Monstros SA (2001), Pete Docter
Taxidermia (2006), György Pálfi
Alta Fidelidade (2000), Stephen Frears
Os Excêntricos Tenembaums (2001), Wes Anderson
Cidade dos Sonhos (2001), David Lynch
Napoleão Dinamite (2004), Jared Hess
Anti-Herói Americano (2003), Shari Springer Berman e Robert Pulcini
Pequena Miss Sunshine (2006), Jonathan Dayton e Valerie Faris
Fale com Ela (2002), Pedro Almodóvar
Terra dos Mortos (2005) , George Romero
The Brown Bunny (2004), Vincent Gallo
O Signo do Caos (2004), Rogério Sganzerla
O Pianista (2002), Roman Polanski
A Criança (2006), Jean Pierre & Luc Dardene

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A ação demoníaca

Dada a impiedosa injeção de testosterona deste blog, me senti impelida a escrever algo o mais mulherzinha possível, sobre um filme francês ou uma comédia romântica. Mas não. Na última semana eu me dei ao trabalho de ligar a televisão com o firme objetivo d’ela fazer-me dormir e, nas três seguidas vezes, no mesmo aclamado canal cult, deparei-me com o famigerado “Bebê de Rosemary”, filme que há tempos estava em meu imaginário como “filme de terror” e que eu constantemente confundia com “A mão que balança o berço”, por algum motivo bizarro.

Ainda assim, as duas primeiras tentativas de assisti-lo foram fracassadas, levando em conta que o objetivo inicial de forma alguma era assistir à um filme cuja storyline é “A jovem Rosemary provavelmente carrega o anticristo no ventre.”

Ainda assim, a presença marcante do ídolo, lindo e carismático, John Cassavetes me fazia lutar para não dormir, embora o sono acabasse ganhando. Na terceira tentativa eu tomei vergonha na cara e assisti a toda a saga da família Woodhouse e seus vizinhos caquéticos.

Rosemary e Guy são recém casados, que se mudaram para um prédio em NY onde, no passado, várias histórias de morte e canibalismo ocorreram. Logo fazem amizade com o casal de velhinhos do apartamento da frente, que torram o saco dos coitados.

O espectador sabe que tem algo de errado com aqueles velhos, eles realmente são assustadores. Mas o fato é que eles são meio que lideres de uma seita diabólica e Guy (ou Cassavetes in the dark side of the force, como eu prefiro chamar), um ambicioso aspirante a ator, vende o primogênito ainda nem concebido em troca de sucesso.

O Bebê de Rosemary é um dos claros exemplos de terror psicológico no cinema, ao melhor estilo “lobo-mau-atras-da-princesa-no-teatro” com uso controvertido da suspensão hitchconiana (se isso fosse um trabalho de final de semestre eu explicaria isso melhor. Por ora, deixa passar). Oh meu Deus como é agonizante descobrir cada pedaço dessa insana e macabra conspiração que acontece contra Rosemary. Toda a destruição de uma ordem moral derivada da criação católica que injeta culpas e dogmas numa juventude posteriormente esvaziada.

Enfim... todo esse falatório pra chamar atenção a um filme muito bem sucedido e não muito dogmático na ferida que toca, o Allmight , mas ainda sim categórico em sua afirmação, uma vez que Rosemary parece ceder ao "mal", no final, pelo filho. Se hoje eu ligar a tevê e estiver passando eu assisto novamente, com gosto e menos medo.

E viva a aleatoriedade.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A ação frenética

Tomo pra mim a tarefa de responder (está mais para dialogar com) o último (e primeiro) texto do meu colega mais mineiro. Me proponho fazer nos mesmos termos, no calor da hora, de madrugada, sem refletir muito sobre isso. E com alguma canastrice.

Adrenalina (Crank), de Mark Neveldine e Brian Taylor. Não é Luc Besson, mas, ora, não vou escrever sobre o francês se conheço-o mal. O terreno é parecido: filme de ação, testosterona e Jason Statham. E foi o Tiago quem me indicou. O filme , que parte de uma premissa tentadora para o público sedento por sangue, é sobre um assassino profissional (Statham) foi envenenado e para desacelerar a ação do veneno, ele precisa manter o nível de adrenalina alto. A morte será inevitável. O que temos com isso são perseguições de carro dentro de shoppings, tiroteios, sexo em público, uso de drogas e outras coisas divertidas.

Os diretores parecem então cheios justificativas para brincarem com a imagem, afinal o seu protagonista está extremamente alterado, correndo, matando, roubando em busca de vingaça. A forma expressaria o estado do personagem. Mas o excesso beira o rídiculo. Montagem frenética, redundante, inundada de efeitos desnecessários, usados para situar a ação, criar um suspense superficial ou simplesmente dançar ao ritmo da música.

De fato, percebo uma fraqueza na imagem produzida, os realizadores parecem não acreditarem na sua capacidade de criar imagens menos efêmeras. O produto, videoclíptico, parece ser feito para o consumo rápido e necessário, como a cocaína cheirada pelo herói no chão do banheiro. Necessidade criada pelo mercado, explicitas nos trailers, provocadores de desejo por uma obra esvaziada.

Como alternativa, mais satisfatória e perene, de imagens concretas e de peso, aponto filmes de Michael Mann, como Miami Vice e Fogo Contra Fogo. Filmes mais elaborados tanto imagética, quanto dramaturgicamente. Mas sobre esses, exijo mais que 25 minutos de reflexão.

domingo, 12 de agosto de 2007

A ação francesa


Vejamos...hoje é dia de bancar o homem viciado em testosterona e falar sobre um francês.
Ser francês é o oposto de ser homem? Bem, posso te responder aos poucos, com duas palavras: Luc Besson, diretor, produtor e roteirista de um bom número de filmes. Besson dirigiu e escreveu a ficção científica “O Quinto Elemento”, com Milla Jovovich (“Leello multipass!” – alguém lembra disso?), Bruce Willis, Gary Oldman, Chris Tucker, dentre outros atores. Roteirizou e produziu a série “Carga Explosiva” (1 e 2. Por enquanto são dois.), protagonizada por Jason Statham, e “13º Distrito”. O ponto abordado no texto é simples: questionar os filmes de ação, especificamente os que Besson está envolvido e mais especificamente ainda, irei me ater à série “Carga Explosiva”.
A série narra as peripécias do “transportador” (“mercenário” contratado para serviços de “entrega”) Frank Martin, soldado aposentado, que mora na França, em sua tranqüila residência mediterrânea (mote do primeiro filme). Os propósitos da série são pontuais: propor desafios que coloquem Martin numa espécie de corrida. Isso justifica o caos ensaiado que vemos na tela. Lutas, explosões, movimentos de câmera e montagem frenéticos, trilha sonora empolgante. São regras básicas que grande parte dos filmes de ação adota. E a reflexão da série é simples, mas eficaz. Existe certa constatação de que como já foi dito, tudo é ensaiado, e que isso faz parte do jogo, desmoralizando o que de fato é real na cabeça do espectador e fora dela. Cabe a ele decidir que ele compra o falso ou não.
Tomemos a França como um lugar idílico, tranqüilo. O justo estereótipo visto por uma ótica hollywoodiana, porém temos um francês, Besson, preocupado em injetar ação francesa/americana + artes marciais, quebrando assim um padrão. Que padrão? O padrão de que filmes de ação são gravados em Hollywood. Bem, nem tanto assim. A série de filmes de Jason Bourne, regravação das aventuras do agente sem memória, agora interpretado pela “metade-inteligente-da-dupla-Affleck/Damon” Matt Damon , que se passa na Europa. Além deste, tem-se os filmes do agente James Bond, esteticamente europeus. De fato, Hollywood mantem pra si uma grande parcela na produção de filmes de ação, mas a preocupação do texto não é esta. Poderia citar também o glamour que a Europa traz consigo, o charme do sotaque inglês, as cuspidas do povo alemão, os campos bem cuidados, as ovelhas brancas, as águas disfarçadamente límpidas e tudo mais, mas também não é o caso.
Jason Statham/Frank Martin, como o grande, forte e sagaz protagonista da série Carga Explosiva abraça seu papel de herói inverossímil, quase nos moldes de John McClane. Sim, os dois explodem coisas, os dois matam pessoas, os dois pulam. Os dois são sarcásticos e, acima de tudo, os dois são carecas. Qual a diferença entre os dois?
Jason Statham é inglês. Ele vive sob regras. Ele é metodicamente frio, atendendo ao pedido do estereotipo. Ele luta no óleo, luta com mangueiras, com varas, contra uma mulher andrógena, num avião, em carros e jet-ski, com tudo que estiver por perto. A pergunta a se fazer aqui é que tipo de reflexão a série propõe. Na verdade, que tipo de reflexão o gênero de ação pode propor, sem entrar no mérito da “bem feitura” ou do termo “B” para classificar tais películas e na questão do nível de pretensão dos realizadores.
De fato, os heróis passam por provas físicas e mentais, almejando um objetivo específico. É relevante ter-se cautela para não cair em armadilhas fáceis de julgamento pré-concebido, tais como afirmar que o mundo precisa de heróis e é por isso que eles existem no cinema. O interessante é avaliar os filmes de Besson e, consequentemente, os de ação como todos os outros, no sentido de “descobrir” entrelinhas nas imagens, se existe uma provocação/questionamento/apontamento ou se é tudo em prol da diversão (sim, este também é um julgamento pré-concebido).
As “regras” atuais dos filmes de ação parecem ser ditadas pela procura de inovação nas cenas de ação e na produção de roteiros que não sejam meras cópias. No fim das contas, o que sempre importará será a preocupação em soar original de algum modo e ser absurdamente inverossímil conta.
Bem, eu ainda acredito na validade da produção de filmes carregados por testosterona, no bom sentido da palavra e continuo com dúvidas sobre as "verdadeiras" propostas do gênero.

Fontes:

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Primeiro

É preciso ter um primeiro post, tanto pra marcar um ínicio quanto pra testar o layout e mostrar para os colegas onde vamos escrever.